Voa Voa

... que o tio agora namora Lisboa.

quarta-feira, junho 23, 2010

Encontramo-nos na galeria

Encontramo-nos na galeria
a tua face é geometria
o teu corpo ergonomia
Estudei-te de canto a canto
como se não tivesses interior
nada me daria mais transe
do que puxar-arrancar-te o manto
palavra do senhor
Podias ser virgem maria
que num quadro residia
com essa tua aura menina
filha duma beleza assassina
Imaginei-te como se fosses só linha
a viagem duma princesa animada
tão ténue, tão só ao fundo da estrada
e ao mesmo tempo só minha
Não me despeço do desejo
de apareceres por graça do acaso
e ver tuas cores verdadeiras
derrubar as telas do desconhecido
inebriar-me com o mistério
que deixa logo ver um beijo

Abre-se o baú

Abre-se o baú
e saiem de lá os mágicos da primavera
os insectos jardineiros, os pássaros gaiteiros
as flores são pintores, e há perfeitos-amores
nas ervas que beijam as águas da vera
Não há tabu
o meu passado é sempre vivo
é tudo o que preciso
para me reciclar, um filme rodar, um slide passar
e a semente rebenta, toma posse daquele terreno
traz-me um sorriso de noventa, uma nostalgia que me põe sereno

está tudo dito...

tudo por definir, e assim deve ficar, imperfeito, as asas da abstracção incluídas, e agora, sem transições, porque estou farto delas, tenho joaninhas pá troca, alguém quer?

Foto: Janete Martins