A cavalaria não chegou ainda

A cavalaria não chegou ainda
mas sei que a batalha afigura-se linda
a dor está no programa
a contrabalançada, a desprezada
precipita-se como na picada dum escorpião
do veneno que foi um mel saborão
virá o culminar de todos os dias de mama
Amanhã porei as orelhas de burro
despontarei com um valente zurro
e vencerei o vício a murro
e juro, irei apanhar deste castigo
um fartote de ser o meu pior inimigo
Bastei pra este torpor enganador
não tivesse já eu um feitio extravasante
atearei toda a energia em mim e ao redor
e surfarei as ondas de ânsia cortante
Declaro o fim da guerra química
vai principiar a purgação
e mais não digo nem faço mímica
pois tantas ideias nasceram mortas
as minhas entranhas podem estar tortas
estas abençoadas rimas não estarão!

No início havia recreação

No início havia recreação

neurónios gozavam a mais não poderem...

uma realidade dormente numa vibrante percepção

mas por detrás sem eles saberem

conspirava uma feroz fixação

Tudo se perdeu ou transformou

quando a vontade cedeu e se entregou

aos vazios orgânicos da mente

à quietude exasperante de emoções

aos destroços que tornam tão ambivalente

a fruição de tantas e tamanhas monções

Lá se foi a aventura, a degustação, a beleza do que pode ser a vida

para dar lugar à agrura, à aflição, à tristeza de quem aos erros dá guarida

Hoje é segunda, tirei esta hora para me ensinar...

a comprar um bilhete de volta à terra dos porquês

porque é que eu não sou diferente pra variar?

talvez à segunda seja de vez...

Tens o apelido mais engraçado

Tens o apelido mais engraçado
uma voz de formiguinha tão bem afinada
que me faz entrar num desenho animado
e que carinha mais cómica e abonecada
lábios que ardem com a paz duma fogueira companheira
encantam-me com as suas danças caóticas e hipnóticas
com este fogo até apetece fazer uma brincadeira
e dedicar-lhe poesias romântico-estrambólicas
Já ando tontinho de tanto orbitar
à volta dos teus atraentes pestanudos celestes
o meu sonho é poder um dia aterrar
e com eles contemplar uma aurora sem vestes!

(um smile : ) muito especial para ti ...)

Por vezes fico maluco em segredo

Por vezes fico maluco em segredo
possuído por sentimentos a bater de liberdade
há pouco cativos do guarda Medo
há muito aquém da realidade
Como quero sucumbir a esta partida da natureza
abrir a jaula e deixar a fera caçar
partir o vidro e ver as borboletas voar
sem perguntar, para onde me leva a correnteza?
Como quero ser refém da tua vontade
aprendiz da tua verdade
causar-te a mesma loucura
e que seja sol de muita dura
Como quero viver enfim
viver contigo até ao fim

São Valentim, São Valentim

São Valentim, São Valentim
quando é que arranjas uma gaja pra mim
uma rainha que eu coroasse de copas
uma deusa que eu mimasse com oferendas
até corar de inveja todas as cachopas
até tornar banais todas as lendas
Faz tempo que pausei o coração
nem no teu dia abri uma excepção
não abri a barraquinha do chocho
não abri as pernas por dá cá a tua palha
pois se queres saber não passo dum mocho
valho-me da sabedoria, sou estudante de alquimia
o povão que se banqueteie com o tentador pão
que eu um dia, em surdina, agarrarei a genial migalha