Voa Voa

... que o tio agora namora Lisboa.

sexta-feira, abril 20, 2007

Hoje é um belo dia pra morrer na praia

Hoje é um belo dia pra morrer na praia
misturar-me com a areia e os olhos fechar
"vinde ter com a minha alma e lavai-a"
rogo moribundo à espuma do mar
Aqui, onde dois elementos conversam e vice-versam
água que dissolve o sal das minhas feridas
terra que tapa as memórias mal esquecidas
juntos, pra que as chamas do sol para sempre nos aqueçam

quinta-feira, abril 19, 2007

São 10

São 10
senta-te, bebe uns cafés
e saiamos quanto antes deste ralenti
começo a achar que tudo é esforço teu pra me evitar
serei eu intelecto tão aborrecido pra ti?
Ora essa, deixa-te dessa treta de mea culpa e ouve mas é este poema
aqui vai a explicação para este grave dilema...
Raio que rasgas o céu
és duma existência efémera, duma energia tão bruta e pura
és amoral, irresponsável, um brilhante camafeu
tens a tua missão bem definida mas pra mim iluminas e animas a noite escura
A natureza criou-te possante e singelo
coisa maior, intocável, sinistro mas belo
sob a tua força física, abrigam-se as fraquezas do meu intelecto
amiúde humano dejecto, de ganância, egoísmo e altivez objecto
consumido pela sede de emoções
a especialidade da nossa raça tão fulgurante
tanto pensar pra desejar uma avó borrasca, um avô ciclone e uns pais trovões
comparado a ti raio, posso ser alguém, mas sinto-me um algo tão insignificante

sábado, abril 14, 2007

És gema por lapidar

És gema por lapidar
podes ser tão preciosa como te podes escaqueirar
mas não esperes pelo golpe perfeito
vais querer levar a vida a eito
Não há fórmula para o brilho que encerras
trata de retirar as primeiras lascas com jeito
só tu te dirás quando erras
só tu saberás de que és feito
Sempre que puderes, mete por um prado de bem-me-queres
enche os favos da tua colmeia com boas amizades até ficar cheia
mas guarda espaço de 1ª linha prá família e prá mais doce rainha
serão o teu sustento assim que a vida chegar com um inverno
é que sem a sua picada de amor eterno
ficarias vivo mas um tanto absorto
pois por dentro, o teu coração estaria morto

segunda-feira, abril 09, 2007

Ok, contagem crescente

Ok, contagem crescente
quero os trapos todos a suar, a cama a estremecer
a beiça a babar, as tripas a ranger
se para me curar é preciso pôr-me doente
sê-lo-ei com uma pinta de podridão decadente
e quando o sol parecer nascer cada vez mais longe
um galo cantará autoritário e com a paciência dum monge
stop, seu estupefaciente!
Num transe sem igual, justos, límpidos e sadios
filhos do instinto animal, lutam por si, contra mim
guardiães da vida, despejados, baldios, desesperadamente tardios
vão fazer-te a lida, casa do meu espírito em ruína, cercada enfim!
podem estirar-relampejar-estrebuchar, tocar o guizo neste e naquele piso
são frentes que retaliam, choques que electrizam, horas que me esgotam
dure o que durar este caminho, moe o que moer este moinho
está consumado o ensejo, de vós já só posso depender
em breve, à velocidade dum beijo, sairei desta vossa graça um novo ser

sábado, abril 07, 2007

Pai Nosso dos Heroinómanos

Pó nosso que estais na prata
elevada seja a vossa pureza
venha a nós o vosso fumo
seja feita a vossa chinesa
assim em jejum como à sobremesa
A broa nossa de cada dia nos dai hoje
perdoai-nos as nossas penhoras
assim como nós perdoamos a quem nos tem abandonado
e não nos deixeis entrar em overdose
mas livrai-nos da ressaca
Amen